Caminho dos dormitórios para o crematório no Campo de Concentração de Dachau
Não posso dizer que foi um dia feliz. Mas visitar Dachau era um programa que queria fazer desde a adolescência, quando devorava livros sobre a Segunda Gerra Mundial. Então foi um dia muito importante para mim.
Mas vamos começar pelo começo, como chegar lá.
Resolvemos ir de trem, pois o transporte público, como tudo na Alemanha, funciona muito bem. O rapaz da recepção do hotel disse que a estação ficava a 30 minutos de caminhada, e que era melhor pegar o ônibus, mas como gostamos de caminhar, fomos à pé mesmo.
O caminho foi bem gostoso, e paramos em uma loja gigantesca de coisas para jardim e ferramentas. O Mauro ficou louco com as ferramentas e dona Ane com as sementes de flores. A Ellerim, que é louca por flores, também me fez comprar um monte de sementes para plantar com a vó Ane.
Tinham muitos produtos legais, como lagos artificiais prontos, fontes, todos os tipos de bulbos de flores e as mais diversas ferramentas.
Loja de Jardinagem e Ferramentas em Munique
Continuamos o caminho, e chegamos até o local indicado pelo mapa, e nada de estação. A gente via os trilhos passando por cima de um viaduto, o problema é que a entrada da estação era quase impossível de encontrar! Tinha uma escada e uma passagem por baixo de outro viaduto. Levamos mais de meia hora indo e voltando no local que mercava no mapa até conseguir encontrar a estação.
Compramos o Ticket para o dia todo, para a família (até 5 pessoas) por 13,5 Euros, e este ticket era válido também para ônibus e para Dachau. O ticket para a linha branca (dentro de Munique) custava 10,50 Euros e não incluia Dachau.
Estação de Trem em Munique
O trem é bem sinalizado (no letreiro aparecem os próximos trens e o horário, não tem como errar). Mas a estação é bem simples, só a plataforma e as máquinas para vender os tickets mesmo.
Chegando na estação de Dachau, logo em frente fica a estação de ônibus, e o primeiro ponto já é o da linha direta para o campo de concentração, que era nosso objetivo.
Ônibus para o campo de concentração de Dachau – KD-Gedenkstätte
O caminho é bonito, mas é uma sensação estranha. Não somos nada místicos, mas até o Mauro sentiu uma vibração carregada na cidade. Não é um local onde gostaríamos de morar.
Ellerim brincando no ônibus
Ônibus a Caminho do Campo de Concentração de Dachau
O ônibus para bem em frente ao campo, e a entrada é gratuita.
Entrada do Memorial e Centro de Visitantes do Campo de Concentração de Dachau
Mapa do Campo de Concentração de Dachau
Foto dos prisioneiros dando as boas vindas aos soldados americanos em 29 de abril de 1945
O portão de entrada do Campo de Concentração de Dachau com a sombria inscrição: O trabalho Liberta
Fomos direto assistir o vídeo sobre o campo, que tem sessões em inglês e em alemão. O filme é muito triste, e fiquei tentando tampar os olhos da Elleirm, distraindo ela, mas ela queria saber tudo. Ela perguntava sobre a guerra, por que os homens faziam a guerra e queria saber se foram só os “alemões” que morreram. Neste ponto eu achei tudo forte demais para ela, e logo entreguei o Ipad para ela se distrair, e ainda bem que ela ficou jogando e não viu mais nada no museu, onde estão as fotos e vídeos contando toda a história do campo.
Do lado de fora, mesmo sendo difícil empurrar o carrinho por causa da brita, deixei ela no carrinho jogando no Ipad, enquanto visitamos a réplica dos dormitórios.
Memorial no Campo de Concentração de Dachau
Campo de Concentração de Dachau
Nos retângulos ficavam os dormitórios que foram demolidos – ao fundo a contrução é a réplica do dormitório
Os dormitórios ficavam de ambos os lados
Entrada para o crematório
Nesta contrução ficava a sala de “banho”, o crematório e o “depósito” de corpos: A Câmara da Morte
A sensação de estar dentro da sala do crematório é muito ruim, e pela primeira vez não consegui falar a verdade para Ellerim. Quando ela me perguntou para que eram os fornos, eu só consegui responder baixinho que eram para queimar lenha.
Os fornos no crematório do Campo de Concentração de Dachau
Este crematório serviu de modelo e treinamento para os demais campos de extermínio
As imagens estão expostas no mesmo quarto onde as fotos acima foram tiradas – A Câmara da Morte
Entrada da sala do “banho de chuveiro” do Campo de Concentração de Dachau
Sala do Banho de Chuveiro do Campo de Concentração de Dachau
Não vou contar a história do campo de concentração, porque todos conhecem, e está na internet e em todos os livros de história para quem quiser ler.
Mas vou falar um pouco sobre como nos sentimos. E até isso é difícil de fazer. Não é algo que tenhamos vontade de dividir com os outros, mas reviver a história é necessário.
Somos descendentes de alemães. Durante a Segunda Gerra Mundial nossos avós e pais foram proibidos de ensinar alemão aos filhos, as escolas foram proibidas de dar aulas em alemão e muitos foram presos apenas por falar alemão nas ruas.
Muitos descendentes não conseguem entender esta “perseguição” exatamente por fecharem os olhos para o que aconteceu aqui e em outros campos de extermínio, ou ao menos por acharem que muito do que é dito não passa de propaganda.
Também existe toda a questão de confundirem o povo alemão com nazistas e racistas, confundindo o partido com o Estado e com o próprio povo.
Mas quando estamos aqui nada disso tem importância.
Quando testemunhamos tamanha estupidez e maldade do ser humano, nada mais tem justificativa. Só conseguimos ficar quietos e sentir uma tristeza profunda.
Além disso sentimos uma consternação, uma inconformidade e uma sensação de impotência. Uma vontade terrível de que tudo isso não passasse de ficção, e uma vontade ainda maior de que nada disso volte um dia a acontecer.
O lema do memorial é: Perdoar sim, esquecer jamais!
É um local tristemente bonito.
ótimo post prima
parabéns
Eu que agradeço o depoimento Patrícia! Se um dia você tiver a oportunidade, é algo que não podemos esquecer mesmo!
Abraços e venha sempre nos visitar!
Nossa, vi parar aqui procurando uma tema ou algo legal para uma de aniversário e me deparei com a triste história dos campos de concentração, pois acredite meu rosto se banhou em lagrimas de ler um depoimento tão sensível a respeito de um assunto que eu não costume digerir bem, parabéns pela sensibilidade, você conseguiu me abrir os olhos e querer conhecer um desses campos. Obrigada viu!
Verdade Suzana! Não podemos esqucer… também acho que vale a visita para quem passar por Munique!
Obrigada pela visita, e volte sempre! Beijos
boa tarde,
tambem já visitei este campo de concentracao, tive uma sensacao muito esquisita quando entrei em cada lugar, a historia nunca deve esquecer tudo o que aconteceu ai, estou atualmente por 3 meses em munique e sempre volto quando possivel,lugar muito bonito…….. de se visitar
Oi Alessandra! Muito obrigada! Depois me conte o que você achou…
O Mauro sentiu uma atmosfera tão “pesada” na cidade que ele disse que não gostaria de morar ali… você sentiu algo assim?
Sobre a língua, com a Nacionalização, outorgada em 1937 por Getúlio Vargas ficou terminantemente proibido ministrar aulas em alemão nas escolas do Brasil. Em seguida, em decorrência da 2ª Guerra Mundial, a língua alemã foi proibida no Brasil. Foi proibido publicar jornais em língua alemã, falar alemão em lugares públicos, documentos alemães foram retirados de residências e apreendidos e até bibliotecas alemãs foram destruídas. Uma parte pouco conhecida da história brasileira, talvez por ter afetado apenas as colônias alemãs. Mas para os imigrantes foi uma época bastante traumatizante.
Beijos e venha sempre nos visitar!
Quero parabenizá-la pelo post emocionante. Hoje estou indo conhecer Dachau, estou em uma viagem para relembrar o tempo e a história. Sempre li muito sobre a segunda guerra mundial para tentar entender o que leva um ser humano a tamanha atrocidade. Fiquei emocionada lendo seu relato. Não entendi bem quando você fala que não podiam ensinar alemão, você poderia me explicar isso melhor, nunca li sobre isso. Onde não podia ensinar e porque? Mais uma vez parabéns!
Alessandra
Que legal Leiva. É um passeio bem intenso. Depois venho nos contar como foi! Beijos
Obrigada pelo relato… estaremos indo visitar nos próximos dias… muito bom!
Obrigada Ná. Com toda certeza… por isso é tão importante falar sobre isso. Beijos e obriada pela visita!
Você tem razão Gisele. Eu até hoje não tive coragem de assistir O Menino do Pijama Listrado. Mas é uma parte da histório que realmente não podemos esquecer…
Venha sempre nos visitar, também nos posts mais “felizes” rsrsrsr
Beijos
muito emocionante e ajso mesmo temporevoltante com tamanha bárbarie.b
Eu não tive coragem de ler este post ainda, ao olhar as fotos eu sinto enorme aflição. Minha avó era alemã ela vivenciou parte da guerra e fugiu para o Brasil, nos contava horrores sobre isso, meu pai também falava bastante coisas sobre isso. Então é algo muito forte para mim, mas eu ainda vou criar coragem, um dia. eu acho, talvez eu precise. Faz parte da história eu sei. E não mudou muita coisa, só mudou o contexto e a forma de ser feito, mas o massacre continua. Mas foram tantos e me espanta ver que até hoje muitos ainda são adeptos deste sistema e deste monstro.
Mas todos os dias eu passo por este post.
Beijos
Você resumiu tudo Romana! Muito obrigada, e venha sempre nos visitar! Beijos
Nossa amiga…vc consegui me emocionar…meus olhos estão cheios d’agua.O povo alemão não tem culpa,é um povo sofrido por esse passado que deixaram para ele, e que não os pertece.Pior foram aqueles que poderiam ter evitado tudo isso “A SANTÍSSIMA IGREJA CATÓLICA” e simplesmente fecharam os olhos..Parabéns pela sua sensibilidade… Só precisamos ficar alertas…os novos perseguidos agora são pessoas de outras crenças,homossexuais,negros..qualquer um que não se encaixe no sistema…Como foi com Hitler.
Que Deus tenha piedade de nós; e que todos os seres humanos sejam mais tolerantes com aqueles que querem ser diferentes! UM BEIJO EM SEU CORAÇÃO! QUE CRISTO JESUS CONTINUE SEMPRE CUIDANDO DE VC E DE TODA SUA FAMÍLIA!